Chamamos de ‘condução da regeneração natural’ ou ‘regeneração natural assistida’ um conjunto de técnicas usadas para ajudar, acelerar ou enriquecer o processo de restauração ecológica que acontece de forma natural (a partir do banco de sementes presentes no solo ou que chegam na área levadas por animais ou pelo vento).
Tais técnicas buscam proteger a área de fatores que atrapalham a chegada de sementes e o desenvolvimento de árvores nativas, como por exemplo fogo, pisoteio de gado e capim braquiária, e ao mesmo tempo favorecer fatores que auxiliam a regeneração, como microrganismos do solo e animais polinizadores e/ou dispersores de sementes. Podem ou não envolver o plantio intencional de sementes e mudas.
Em geral, é um método mais barato do que os plantios de mudas em área total, porém só pode ser utilizado em locais com potencial de regeneração, isto é, onde existam áreas florestais próximas e o solo tenha condições de dar suporte ao desenvolvimento de árvores nativas.
No projeto Reflorestar, as áreas em condução da regeneração natural, além de servirem à restauração ecológica em si, também tiveram a função de áreas experimentais, que, após o monitoramento do desenvolvimento da vegetação, foram comparadas às áreas em plantio total. A intenção foi comparar a eficácia de diferentes maneiras de conduzir a regeneração entre si e também em relação a áreas onde foi feito o plantio total.
A cobertura dos solos nas áreas trabalhadas nesse projeto se divide basicamente em duas situações: dominadas pelo capim que chamamos de braquiária ou dominadas pela samambaia do gênero Pteridium. Em ambos os casos, essas plantas que chamamos de hiperdominantes dificultam ou impedem o estabelecimento de espécies nativas. Então um grande desafio para conduzir a regeneração é controlar o seu crescimento, gerando condições para que a vegetação nativa possa competir e se estabelecer. A seguir serão apresentadas as especificações da implantação e dos custos relacionados às duas situações.
A dominância pela braquiária é a situação mais comum nas paisagens degradadas da região. O controle dessa gramínea é um dos principais desafios à restauração ecológica.
Selecionamos seis áreas dominadas por braquiária, com tamanho entre 1 e 2 hectares, onde estabelecemos um esquema experimental com três diferentes técnicas de manejo para conduzir a regeneração natural.
Todas as áreas apresentam características que indicam médio a alto potencial de regeneração natural, como estado de degradação do solo e da vegetação do entorno e a presença de algumas plantas arbustivas e arbóreas regenerantes.
Cada uma das 6 áreas foi dividida em 3 partes, que chamamos de tratamentos experimentais T1, T2, T3. Assim, ficamos com 6 repetições de cada tratamento experimental para comparação.
Plantio de sementes de árvores nativas e adubadeiras
As mudas plantadas no T3 não foram distribuídas de maneira uniforme pelas áreas, como é feito nos esquemas de plantio total.
Utilizamos a nucleação aplicada (NA), uma estratégia de restauração na qual ilhas de árvores são plantadas para acelerar a recuperação do habitat florestal, formando núcleos de dispersão.
Decidimos utilizar a NA de forma experimental pois, embora a literatura científica indique que ela aumenta a eficácia da regeneração natural e tem um custo mais baixo do que o plantio total convencional, não tem sido amplamente utilizada na região. Os plantios de NA foram feitos em ilhas (ou blocos) com formato retangular, à semelhança do que temos feito em projetos de sistemas agroflorestais (SAF), sempre respeitando as curvas de nível do terreno.
Cada bloco é composto por 5 linhas de plantio, com 2m entre linhas e 1,5 m entre mudas, de modo que a soma das ilhas cobre 27% da superfície de cada área T3. Os blocos (ilhas) de plantio foram distribuídos com distância mínima de 10 m entre si e, sempre que as condições do terreno possibilitaram, obedeceram à orientação leste-oeste para que todas as mudas recebam insolação equivalente. Embora o tamanho e o formato de nossas áreas experimentais não seja regular nas diferentes propriedades, todas as áreas T3 têm igual percentual (27%) coberto pelas ilhas e igual proporção de mudas por hectare. Utilizamos uma densidade de mudas (900 por hectare) quase 50% menor do que em geral é feito nos esquemas de plantio total (1.600 a 1.700 mudas por hectare), o que representa uma redução considerável nos custos.
A tabela abaixo traz o custo médio por hectare de cada tratamento experimental na implantação e manutenção de condução da regeneração natural em áreas dominadas por braquiária.
% mão de obra | % insumos | mão de obra (R$/ha) | insumos (R$/ha) | total (R$/ha) | |
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Custo médio T1 | 92 | 8 | 9.008 | 763 | 9.771 |
Custo médio T2 | 87 | 13 | 9.545 | 1.365 | 10.911 |
Custo médio T3 | 83 | 17 | 17.487 | 3.565 | 21.052 |
A infestação pela samambaia hiperdominante do gênero Pteridium é uma situação comum nas paisagens da região, onde essa samambaia, além de ser um empecilho à criação de bovinos (pois a ingestão dos brotos causa graves danos à saúde desses animais), é um grande desafio à restauração ecológica. As samambaias, após cortadas, rebrotam vigorosamente e são difíceis de serem controladas. Além disso, a literatura científica indica que essa planta libera substâncias que inibem a germinação e o crescimento de outras espécies ao seu redor (efeito alelopático).
Por isso, selecionamos duas áreas experimentais, ambas medindo 1 hectare, que estavam dominadas há mais de uma década pelas samambaias, apesar de terem um grande potencial de regeneração natural (rodeadas por fragmentos florestais e nas imediações do Parque Estadual da Serra do Mar) e do desejo dos proprietários em restaurá-las. Nesses locais aplicamos técnicas de manejo visando ‘quebrar’ a resiliência destas samambaias e criar condições para o estabelecimento de vegetação nativa.
Semelhante ao que foi feito nas áreas dominadas por braquiária, mas considerando especificidades diferentes, cada uma das áreas experimentais dominadas por samambaias foi dividida em duas partes, que chamamos de tratamentos experimentais S1 e S2. Em cada parte foram aplicados procedimentos técnicos diferentes. Assim, ficamos com um par de áreas com tratamento S1 e um par de áreas com tratamento S2 para serem comparadas.
A tabela abaixo traz o custo médio por hectare de cada tratamento experimental na implantação e manutenção de condução da regeneração natural em áreas dominadas por samambaias.
% mão de obra | % insumos | mão de obra (R$/ha) | insumos (R$/ha) | total (R$/ha) | |
---|---|---|---|---|---|
Custo médio S1 | 95 | 5 | 11.500 | 569 | 12.069 |
Custo médio S2* | 94 | 6 | 16.100 | 1.059 | 17.159 |
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